Greve

Zona Sul chegou a 15 pontos de paralisação de caminhoneiros nesta quinta-feira

Em segunda reunião com o governo, manifestantes não chegam a acordo e greve permanece; municípios que integram a Azonasul, exceto Pelotas, paralisam as atividades nesta sexta-feira

Gabriel Huth -

No quarto dia de paralisação dos caminhoneiros em todo o Brasil, são pelo menos 15 focos de manifestação na Zona Sul. São locais onde há bloqueio parcial apenas para caminhões de carga, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Ecosul. Pelo quarto dia consecutivo, não chegam cargas de produtos no comércio, que começa a sentir alguns reflexos da greve. Alguns supermercados já apresentam falta de hortifruti nas prateleiras e é praticamente impossível abastecer desde a manhã desta quinta-feira (24). Os 23 municípios da Associação dos Municípios da Zona Sul devem paralisar os serviços públicos e manter apenas atendimentos de saúde. Pelotas não vai aderir a paralisação total.

Em Turuçu e Rio Grande, houve bloqueio da pista inclusive para veículos de passeio e ônibus de passageiros durante a tarde. Um movimento de cerca de 25 cavaleiros percorreram as ruas centrais de Pelotas durante a tarde mostrando apoio ao movimento. No final da tarde desta quinta, a PRF informou que todas as rodovias federais da Zona Sul estavam liberadas.

Mudanças na rotina
O hipermercado Big, na manhã desta quinta-feira, já contava com falta de batata, cebola, tomate e outras frutas no setor de hortifruti. O chefe do setor, Juan Brys, disse que todo dia eram abastecidos com caminhões, o que está totalmente paralisado desde a última segunda-feira. O hipermercado possui estoque de outros produtos. Em duas fruteiras consultadas no centro, os gerentes informam que até domingo eles devem estar abastecidos, porém o cenário para a próxima semana é incerto, em função da dificuldade de armazenar produtos perecíveis. No supermercado Nacional, na avenida Bento Gonçalves, também havia falta de cebola e alguns cortes de carne de frango.

Se precavendo de possíveis desabastecimentos também em supermercados, caso continue a paralisação, a aposentada Maria Tereza Maurente comprava ítens extras para deixar de reserva na cozinha. "Nada do que eu estou comprando, eu preciso", disse.

Outra área afetada é o transporte coletivo. A orientadora educacional Sabrina Borges enfrentou dificuldades para sair do bairro Py Crespo na manhã desta quinta. "Tinha gente sentada nos degraus da escada, de tanta gente. Eu não sei como será para ir embora no final da tarde", disse, mostrando certa preocupação também com a segurança. Dificuldades também foram encontradas pelas estudantes Pâmela Siqueira e Ester Blank, a primeira moradora do Sítio Floresta e a segunda na Vila Princesa. "Já é ruim de segunda a sexta, e agora com os horários de sábado, cheguei atrasada na aula", comentou Pâmela, que esperou cerca de uma hora o ônibus na parada. Muitos usuários não sabiam das mudanças de horário.

O transporte coletivo funciona nesta sexta-feira com horários de sábado e no sábado com horários de domingo. No domingo não haverá transporte coletivo na cidade.

Jaguarão em situação de emergência
O prefeito de Jaguarão, Favio Tellis (MDB), decretou situação de emergência no município. Estão suspensas as aulas na rede municipal assim como o transporte escolar. O município fica, ainda pelo decreto, autorizado a abastecer em qualquer local que tenha combustível, inclusive no Uruguai. Estão mantidos apenas serviços essenciais em saúde. Também estão canceladas todas as viagens para Porto Alegre, por não ter como abastecer para retornar ao município, distante 384 quilômetros da capital.

Rio Grande suspende coleta de lixo
O transporte coletivo de Rio Grande funciona com horários reduzidos. A prefeitura também pede para a população não colocar na rua lixos domiciliares enquanto durar a greve - o aterro está localizado às margensda BR-392, que está bloqueada. Também está suspensa a coleta seletiva do município.

nataliaquintas6

Em Rio Grande, rodovia foi totalmente bloqueada durante a tarde por cerca de uma hora. Trânsito já está normal no local. (Foto: Natália Quintas - Especial DP)

A Superintendência do Porto do Rio Grande também comunicou que a paralisação afetou significativamente a importação e exportação de cargas nos terminais. O transporte de caminhões é responsável por cerca de 80% da movimentação no porto.

Azonasul paralisada
Os prefeitos da Azonasul devem paralisar as prefeituras nesta sexta-feira. Os líderes regionais querem mostrar apoio aos caminhoneiros e protestar contra os preços abusivos de combustíveis. Os únicos serviços mantidos devem ser na área da saúde. Segundo nota da Azonasul, a adesão entre os 23 prefeitos é unânime.

A Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) também convocou uma paralisação para todas as prefeituras do Estado nesta sexta-feira. Devem ser paralisados serviços e equipamentos que necessitem de combustível, exceto os casos de saúde. Os prefeitos gaúchos também reclamam do alto custo aos cofres públicos pelos constantes aumentos do preço da gasolina e do óleo diesel. Até a tarde desta quinta-feira, havia confirmação de 373 municípios, de um total de 497. A paralisação é um protesto também pelo corte do repasse da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) aos municípios e também serve para demonstrar apoio à greve dos caminhoneiros.

Procon não registra abusos
O coordenador chefe do Procon Pelotas, Nelson Soares, informou na tarde desta quinta-feira que não houve denúncias ou reclamações por preços abusivos de combustível e alimentos no município. Soares pediu para a população fazer registros e solicitar a nota fiscal, caso sinta-se lesada com alta de preços. "Tivemos apenas um relato de um posto de gasolina na avenida Domingos de Almeida, que estaria vendendo gasolina a R$7,99, o que não se confirmou pela fiscalização, que chegou ao local 20 minutos após a denúncia e já havia acabado o combustível", contou.

O coordenador lembrou que o Código de Defesa do Consumidor prevê multas para comércios que pratiquem preços abusivos. Para fazer uma denúncia, o cidadão deve se dirigir até o Procon, localizado na antiga Estação Férrea. Informações podem ser obtidas pelo telefone 3305-3505.

UFPel mantém aulas com ressalvas
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) informou, através de nota, que as aulas estão mantidas e o transporte de apoio tem autonomia de combustível até a próxima quarta-feira, dia 30. Os conteúdos novos deverão ser recuperados, assim como provas e outras atividades com avaliação. Não haverá registro de presença durante a greve. A empresa Santa Silvana também confirmou que será mantido normalmente a linha Capão/Embrapa.

Justiça quer impedir bloqueios
A desembargadora federal Vivian Josete Pantaleão Caminha, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), concedeu, nesta quinta-feira, liminar para garantir a livre circulação e passagem em quaisquer trechos das rodovias federais do estado do Rio Grande do Sul. A decisão havia sido negada na quarta-feira e teve mudança de posição pelos conflitos em locais de bloqueio. O argumento da União é que os protestos, apesar da maioria serem pacíficos, comprometem a segurança de todos e causam prejuízos com desfechos violentos.

Era pedido uma multa de R$10 mil por pessoa que participasse dos protestos. A desembargadora esclareceu que há informações de conflito, além de atos de violência e constrangimento a motoristas. Estas atitudes, segundo Vivian, comprometem o respeito com a liberdade do outro, ferindo direitos fundamentais.

O juiz Geraldo Anastácio Brandeburski Júnior, da 1ª Vara Cível do Foro de Canoas, também concedeu pedido liminar da empresa Ipiranga Produtos de Petróleo S.A para impedir o bloqueio das vias de acesso à base da empresa na cidade de Canoas.

Topcam

Imagem aérea mostra a situação dos caminhoneiros paralisados em Pelotas (Foto: Topcam)

Sem acordo com o governo
Na segunda reunião com representantes de onze categorias de caminhoneiros com representantes do governo não foi possível chegar a um acordo. O representante da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, negou a proposta do governo de suspender a paralisação por um período entre 15 dias a um mês enquanto o governo continua trabalhando para reduzir o preço do diesel.

A Abcam representa 700 mil caminhoneiros, com 600 sindicatos espalhados pelo Brasil. Ele comentou ainda que não fala em suspender a paralisação enquanto o Senado não aprovar a isenção do PIS/Cofins, projeto aprovado nesta quinta pela Câmara. Enquanto a reunião se desenrolava no 4º andar do Palácio do Planalto, o representante dos motoristas individuais do Centro-Oeste, Wallace Landim, disse que sua categoria não está representada na reunião e que nenhuma decisão acatada na reunião será seguida por eles. Ele tem uma posição similar à do representante da Abcam e disse que enquanto o fim dos impostos sobre o diesel não estiver confirmado, a paralisação continuará.

"Não somos representados (pelas associações que estão na reunião). Somos caminhoneiros individuais. Se a gente não estiver participando, não vai ter nenhum resultado. Pode sair de lá e falar que acabou a paralisação, que não adianta. A gente só libera a rodovia quando sair no Diário Oficial. Não estamos pedindo esmola, estamos pedindo o nosso direito".

Manifestações na Zona Sul

Bloqueios parciais (somente para caminhões)
Rio Grande
- KM 9 - BR-392 - Trevo da Barra
- KM 20 - BR-392 - Posto Nevoeiro

Pelotas
- KM 66 - BR-392 - Posto Coqueiros
- KM 516 - BR-116 - Antigo posto da PRF

Canguçu
- KM 113 - BR-392 - Posto Bettin

Santana da Boa Vista
- KM 200 - BR-392 - Trevo de acesso à cidade

Santa Vitória do Palmar
- KM 672 - BR-471 - Trevo de acesso à cidade

São Lourenço do Sul
- KM 464 - BR-116 - Posto Corrientes

Camaquã
- KM 464 - BR-116 - Posto 125

Cristal
- KM 427 - BR-116 - Posto Coqueiro

Turuçu
- KM 482 - BR-116 - Posto Lang

Capão do Leão
- KM 529 - BR-116 - Posto Leão

Arroio Grande
- KM 612 - BR-116 - Trevo de acesso à cidade

Pedro Osório
- KM 563,5 - BR-116 - Trevo de acesso à cidade

Jaguarão
- KM 654 - BR-116 - Posto PanAmericano

(Fonte: Ecosul e Polícia Rodoviária Federal)

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Caminhoneiros não chegam a acordo com governo Anterior

Caminhoneiros não chegam a acordo com governo

Prefeituras da região paralisam atividades nessa sexta-feira Próximo

Prefeituras da região paralisam atividades nessa sexta-feira

Deixe seu comentário